Tuesday, April 7, 2009

A Morte do Principito, 2002-2008




Nos conhecemos nas idas e vindas nos gramados verdes da UFSCar.
Minhas amigas falavam dele, que era lindo, inteligente, etc, num blurb sem fim que me deixou curiosa de conhecer o nicaragüense tão popular.
Mas o que vi nele foi apenas uma doçura no olhar, uma singeleza que me dá vontade de chorar quando recordo. Ele era um príncipe encantador.
Derretemos um ao outro numa fornalha vulcânica. Um mês, e ele teria que voltar pra Nicarágua. Até falamos de casar. Ele queria casar antes de ir embora. Agora me pergunto se ele dizia isso por que era romântico, apenas por isso, ou por que realmente tinha a intenção. De qualquer forma, tal pensamento, se fingimento ou intenção verdadeira, está enterrado nas areias do tempo.
Claro que não nos casamos, ele ia embora, eu não era tão louca assim, ainda que 6 anos mais besta e jovem.
Ele foi embora.
Estava no meio de um curso de graduação na Nicarágua, eu no meio da minha no Brasil, o que é mais importante nesses dias, amor ou diploma? Escolhemos o diploma! Amor, se pode achar um em cada país... vamos dar a volta ao mundo...
Quase morri quando ele foi embora.
Claro que alguns dias depois, já tinha outro namorado, mas mesmo assim, quase morri. 

Segundo ele, quase morri por todos meus namorados... Não sei.
Mas sei que essa foi a primeira vez que tive depressão, de olhar pra cima e ver um longo túnel negro, e eu lá no fundo, sem ter idéia como subir até a boca, a escuridão cortando, sangrando a carne.
Chorava todas as noites, depois da aula. Saía do bloco, me sentava no gramado atrás do alojamento, na subida pro prédio das Ciências Sociais, e gritava. Foi nessa época que comecei a temer o crepúsculo. A escuridão da noite me deprime até hoje, a menos que seja noite de festa.
Me meti em outras fogueiras, que sempre terminam em cinzas, é a natureza... sentada nas cinzas, dentro de mim a saudade dele ainda queimava. A esperança de que um dia...
Mas o tempo revela tudo, sempre se pode confiar no tempo e agora, depois de 6 anos.
Nem sei o que aconteceu, como foi que chegamos a isso, o príncipe era tão encantador apenas porque tive apenas um mês pra examinar seus encantos? Provavelmente... Depois de 6 anos, o lado sapo finalmente se revela e behold! a verdade não está lá fora, está também dentro da gente, e das minhas entranhas, vem, na manhã insuspeita, o conhecimento normal e óbvio de que já era. Está morto. Passado.
Dá uma tristeza pequena, porque era uma ilusão tão linda, um balão multicolorido que eu segurava, segurava. Um amor de estimação que voou pelos ares, era apenas ar, vento, um pedacinho de nada... Mas era lindo mesmo assim.
Melhor encarar a vida sem óculos coloridos, olhar pra ela com os olhos puros...
Mas com esse pedacinho de tristeza está o sentimento de liberdade, de roupa lavada, de missão cumprida. Fiz o que pude, agora estou livre, tenho minha vida toda pela frente e vou vivê-la sem carregar essa dor.

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